Realizou-se ontem, dia 27/05/2007, o Domingo de Pentecostes. Coube ao Irmão José Manuel Goulart Gomes e sua família, em representação da Comarca da Lomba, o serviço deste dia.
Os trabalhos começaram cedo, pela manhã, como é tradição foi lançado o foguete avisando que os preparativos para o almoço iriam começar, desta forma, todos os que foram convidados a ajudar dirigiram-se para o edifício polivalente da Casa do Povo do Salão. Muito havia a fazer, desde pôr as mesas, partir a massa sovada, preparar os temperos para as Sopas do Espírito Santo, etc...
Um pouco antes das 11h30m, organizou-se o cortejo com os Irmãos e outros convidados que acompanharam as Coroas até ao Centro de Culto da Paróquia, onde seria realizada a Missa Dominical.
Para além do louvor ao Divino Espírito Santo e coroação do Mordomo e família, esta celebração contou com a bênção da nova mesa da palavra (Ambão) oferecido por um comerciante de mobílias do norte que se costuma deslocar à nossa ilha.
Após a Missa, organizou-se de novo o cortejo, para o edifício polivalente da Casa do Povo do Salão, sempre acompanhado pelos tradicionais foliões, à chegada o Pároco benzeu as esmolas sendo as mesmas entregues a pessoas carenciadas.
Seguiu-se o almoço que contou com: Sopas do Espírito Santo e carne cozida, massa sovada, carne assada, arroz doce, vinhos e sumos, não faltando os tradicionais confeites.
Á noite, pelas 20h00m, antes da mudança da coroa para casa do Irmão que serve hoje, foi cantado o Terço ao Divino Espírito Santo.
Esta tradição de servir ao Divino Espírito Santo teve o seu inicio à mais de 100 anos, pois recorrendo ao jornais da época podemos verificar que:
«Em 1884, no jornal O Açoriano pode ler-se que as festas do Espírito Santo na freguesia decorreram "... no lugar denominado Ramada, onde foram distribuídas muitas esmolas aos pobres...".
No passado, como o número de irmãos era maior, serviam três pessoas no mesmo dia, de sete em sete anos.
É curioso notar que, chegada a altura de servirem juntos, cessavam as zangas entre vizinhos que não falavam. Acontecia uma espécie de tréguas durante o período das festas do Espírito Santo. No entanto, devido ao número de pessoas convidadas por cada irmão nem sempre havia consenso em relação à divisão das despesas. Como consequência, e também devido à progressiva redução do número de irmãos, passou a ser coroado apenas um por dia.
Cada Irmão paga uma quota de 5€, e contribui com duas dúzias de ovos, cinco quilos de farinha, meio quilo de manteiga e 10€ para ajudar o "serviço" do irmão da sua Comarca.
Na freguesia, antes do actual Império, já existira outro na Canada da Igreja, junto ao cemitério, cuja deslocação causou alguma polémica devido à nova localização, junto à Estrada Regional. As actuais instalações foram inauguradas em Maio de 1934. No entanto, em 1930, pode ler-se no jornal O Eco Cedrense: "No dia 6 de Julho realizou-se na freguesia do Salão... uma festa em honra do Divino Espírito Santo, em cumprimento de um voto, constando de missa solene e coroação na paroquial e arraial de tarde, junto do Império Novo".
(...)
A Irmandade possui um grupo de Foliões composto por três elementos: José Fialho, José Maria Mendonça e Tomás Goulart.
No passado, as festas do Espírito Santo eram esperadas com bastante ansiedade e azáfama. As famílias coziam a sua própria massa sovada, altura em que eram atirados alguns foguetes, particularmente quando se acabava de amassar e quando entrava e saia do forno, tradição que ainda, hoje, se mantém.
No sábado, limpa-se e ornamenta-se o Império, recolhem-se as ofertas para arrematar e realiza-se um baile.
No domingo de manhã, o Mordomo coloca no mastro grande a bandeira, seguindo-se o cortejo processional, que sai de sua casa para a Igreja, missa coroação e jantar.
Visto que a Irmandade possui duas coroas e dois estandartes, o Mordomo é que decide o que levar no cortejo. A utilização das varas é recente, terão sido introduzidas na década de 1970, e eram levadas na mão como se fosse um bordão.
A coroação é feita seguindo a ordem das casas dos Irmãos, começando pelo Canto até à Lomba, uma por ano. Após a missa, o cortejo dirige-se para o Império, durante o qual são atiradas flores à coroa. À chegada, o pároco benze as esmolas que o Mordomo entrega, enquanto os foliões entoam cânticos relacionados com o momento.
No início do jantar, os foliões cantam elogios às mesas e à comida, e no fim dizem: - E agora vamos a elas!. É o sinal que a refeição pode começar.
Durante o jantar são arrematadas algumas brindeiras de massa sovada. No fim, os foliões começam a rezar pela saúde dos Mordomos e suas famílias, pelos seus defuntos e por todos os Irmãos vivos e defuntos. (...)
No ponto 2 do Art.º 34º dos Estatutos, estipula-se que sejam dadas brindeiras de massa sovada a tantos pobres quantos os Irmãos, mas, segundo alguns testemunhos, o Mordomo é que decide o número de pessoas e a quem distribuir as esmolas.
Para o jantar, o Mordomo convida os irmãos, amigos e outras pessoas que entender. As sopas do Espírito Santo são constituídas por sopa de caldo de novilho, carne de novilho cozida, massa sovada do Salão e vinho e sumo.
Entre as várias "mesas", os convidados, que esperam pela sua vez para jantar, são servidos com a massa sovada e vinho ou sumo. Também são atirados foguetes.
Á tarde, depois de tudo arrumado, as pessoas juntam-se no Império para "cantar" o Terço (...), seguindo-se a mudança de coroa para casa do próximo Irmão que irá dar serviço.
O Terço, era cantado não só nos dias de Espírito Santo, mas também durante todo o Inverno, quando as pessoas se juntavam a fazer serão em casa dos Irmãos que tinham a coroa. Houve anos em que deixou de ser cantado. Mas esta tradição foi recuperada há cerca de três ou quatro anos, devido aos esforços da Sra. Eduína Machado, já falecida.
Juntam-se muitas pessoas para "cantar", principalmente o Grupo Coral, no entanto, não foi fácil, pois como se tratava de uma tradição oral, as pessoas cantavam como ouviam, o que nem sempre correspondia a letra original. Foi preciso um grande esforço para se emendar os versos de forma a que fizessem sentido, pois alguns pareciam desenquadrados. Além da recuperação das quadras, introduziu-se uma nova oração, que também se canta nos Espalhafatos, no fim do Terço quando se dá a beijar o ceptro da coroa do Espírito Santo.
Ao contrário de outras freguesias, não é costume fazer arraial. Segundo testemunhos de pessoas mais velhas, quando o Império ainda era na Canada da Igreja, havia arraial e eram distribuídas rosquilhas pelos presentes. As sopas eram preparadas em casa dos Irmãos, e só depois é que eram levadas para o Império.
Quanto às festividades, no passado, o número de pessoas presentes era muito maior. Passeava-se desde a Ponte até à Cela, onde havia uma tasca, enquanto os homens a jogar ao bilro, que, por vezes, se envolviam em conflitos. Á tarde, o Mordomo passeava pela rua à procura dos amigos para os brindar com Massa Sovada e vinho.»
(Informação retirada do livro O ESPÍRITO SANTO NAS PARÓQUIAS FAIALENSES de Carlos Manuel Gomes Lobão e editor Clube de Filatelia O Ilhéu)
Marília Medeiros
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